Não afoguem as ilhas do Paraíba
24.02.2022- por itpaA falta de consciência na utilização dos recursos hídricos no Vale do Paraíba chegou a um ponto crítico. Além da devastação ambiental resultante do crescimento urbano descontrolado e o abandono da região noroeste do estado do Rio de Janeiro pelas políticas públicas, grandes corporações, aproveitando-se da carência das comunidades ribeirinhas, aumentam a exploração sob a bandeira de um falso desenvolvimento. A justificativa para a extinção do maior arquipélago fluvial em território fluminense (domínio das Ilhas Fluviais) tem argumentos inconsistentes de geração de emprego e renda, comprometendo a integridade desse importante recurso hídrico.
A construção de três hidrelétricas (Itaocara, Barra do Pomba e Cambuci) no rio Paraíba do Sul ocasionará impactos irreversíveis à fauna e flora da região, o que afetará diretamente as comunidades tradicionais que estão ligadas à pesca. Espécies ameaçadas de extinção, como o cágado-do-Paraíba (Mesoclemmys hogei), único quelônio de água doce brasileiro em risco; as espécies de peixes piabanha (Brycon insignis), o surubim-do-Paraíba (Steindacheneridion parahybae), endêmico da bacia hidrográfica do rio Paraíba do Sul, o caximbau-boi (Pogonopoma parahybae) e o crustáceo lagosta-de-São Fidélis (Macrobachium carcinus), que ainda ocorrem no Domínio das Ilhas, serão comprometidas.
Indivíduos destas espécies sobrevivem em função do significativo trecho do rio (250 quilômetros lineares e ininterruptos, situados entre a Usina Hidrelétrica Ilha dos Pombos, em Além Paraíba, MG, e a foz do Paraíba do Sul, em São João da Barra, RJ), que ainda não foi interrompido por barragens hidrelétricas, o que gera áreas de alimentação, abrigo e reprodução. Uma vez fragmentado, ocorrerá um significativo desarranjo na composição da fauna aquática.
Uma das justificativas para esse impacto ambiental é a geração de emprego para as comunidades da área de influência dos empreendimentos. No entanto, tais empregos não serão disponibilizados todos ao mesmo tempo, mas sim de forma escalonada, respeitando o cronograma de execução das obras. Uma vez em operação, apenas cerca de 20 a 30 empregos serão oferecidos por empreendimento; e os demais trabalhadores, dispensados.
Se considerarmos o contingente de pescadores dos municípios fluminenses Carmo, Cantagalo, Santo Antônio de Pádua, Itaocara, Aperibé, Cambuci e São Fidélis, e dos municípios mineiros Pirapetinga, Volta Grande e Estrela Dalva, aproximadamente 600 pescadores (que vivem parcialmente e/ou integralmente do pescado) terão suas receitas drasticamente diminuídas. Ou seja, é trocar 600 empregos ligados à pesca por outros 60 especializados no setor elétrico.
Além do desaparecimento das espécies animais, da flora e da pesca artesanal, será extinta uma das mais belas paisagens do rio Paraíba do Sul: as corredeiras e suas belas ilhas fluviais. A beleza natural deste trecho tem um potencial turístico imenso, até então não explorado.
Para tentar proteger a região destes impactos, o ITPA, em parceria com a Rede de ONGs da Mata Atlântica, capitaneou a campanha “Não afoguem as Ilhas do Paraíba”, uma tentativa de mobilizar a sociedade para pressionar o governo a não emitir as licenças necessárias para a instalação das usinas.